Distimia e Mau Humor

De acordo com pesquisas, mais de 450 milhões de pessoas são afetadas por doenças mentais atualmente. A Organização Mundial de saúde (OMS) divulgou durante a primeira Cúpula de Saúde Mental que, nos próximos 20 anos a depressão, vai se tornar a doença mais comum do mundo. Segundo a OMS, os números mostram que a depressão será maior que qualquer outro problema de saúde. Incluindo câncer e doenças cardíacas. Ela será a maior causa de perda para a população – hoje é diagnosticada em todas as partes do mundo, podendo ser considerada uma epidemia silenciosa.

Muito se comenta sobre Transtornos do Humor, principalmente sobre depressão. Segundo Alford e Beck (2011), a depressão maior é a principal causa de incapacitação no mundo inteiro. Mas a distimia? O que significa?

Erros Cognitivos

ERROS COGNITIVOS
DESCRIÇÃO DO ERRO COGNITIVO
DICAS PARA CORREÇÃO DO ERRO COGNITIVO
Pensamento Dicotômico- Tudo ou NadaO mundo é feito de extremos. A pessoa pensa em termos de sempre/nunca.Enxergar os meios-termos e o temporário.
RuminaçãoRepetir idéias perturbadorasIdentificar e questionar preocupações.
GeneralizaçãoAcreditar que uma coisa ruim vai se repetir pra sempre.Ser específico- fornecer motivos específicos para o ocorrido. Ater-se ao presente. Não presumir ‘sempre’ e/ou ‘nunca’.
Minimização do positivoReduzir a importância de algo bom e/ou de suas qualidades e realizações.Apreciar as relações –valorizar as conquistas, dar-se crédito, ser grato pelo que é bom.
Concluir apressadamenteAlguém não liga e você conclui que a pessoa não ligou porque não gosta de você.Considerar as possibilidades. Não fazer suposições.
Leitura de PensamentoDeduzir o que os outros estão pensando.É impossível ler pensamentos. Não dá para saber o que os outros estão pensando sem comunicação.
Erro oracularPrevisão do futuro: ‘E se’Identificar a realidade e seus objetivos: viver o presente.
Julgamentos equivocadosJulgar-se em função de seus erros e/ou passos em falsos. Isso provoca a sensação de incontrolabilidade.Perceber o comportamento e não a pessoa. Rótulos são uma armadilha. Contratempos são temporários.
PersonalizaçãoA pessoa se vê como a única responsável por tudo o que acontece.Dividir as responsabilidades.Considerar motivos externos para os acontecimentos.
Maximização do negativoAumentar ou enxergar o significado de eventos e experiências negativas.Focar em eventos positivos.
CatastrofizaçãoFazer tempestade num copo d’água. Interpretar de forma catastrófica situações e eventos.Procurar ser realista. Decatastrofizar eventos e situações.

O termo “distimia” vêm do grego e significa “humor perturbado, anormal ou irregular”. Segundo a OMS,3% da população Mundial, cerca de 180 milhões de pessoas, sofrem de distimia- uma forma crônica de depressão de baixa intensidade. O indivíduo preserva a capacidade de funcionamento, não respondendo aos critérios para transtorno depressivo grave, moderado ou leve.

Uma característica importante da distimia é que, diferentemente da depressão, que se instala de repente, ela não tem essa linha de corte. Ela acompanha o indivíduo desde a adolescência. Os indivíduos que sofrem de distimia desde a adolescência julgam que esse estado de humor seja natural e que faça parte do seu funcionamento “normal”. É exatamente por isso que não conseguem perceber a necessidade de tratamento.

A definição diagnostica da distimia pelo DSM IV (1994) estabelece: humor cronicamente deprimido que se mantém presente na maior parte do dia, na maioria dos dias, por pelo menos dois anos.Ela pressupõe a presença de duas ou mais das seguintes características:

  • apetite diminuído ou aumentado;
  • insônia ou hipersônia;
  • baixa energia ou fadiga;
  • baixa auto estima;
  • fraca concentração ou dificuldade de tomar decisões;
  • sentimentos de desesperança;

Na distimia o mau humor é constante. Os distimicos, geralmente, são pessoas “amargas”, de difícil relacionamento, com baixa auto estima e elevado senso de autocrítica. Na maior parte do tempo se apresentam irritados, reclamam de tudo, geram polemica, resmungam, são agressivos e só enxergam o lado negativo das coisas. A irritabilidade com tudo e todos a impaciência são sintomas freqüentes e incomodam ao próprio indivíduo. A capacidade produtiva fica prejudicada, assim como a agilidade mental.

Os distimicos são pessoas muito exigentes, com eles e com os outros. São altamente estressados e seus estresse e comportamento contaminam as pessoas ao seu redor, que também vivenciam o estresse. Por conta disso, a distimia gera prejuízos pessoas e familiares importantes.

O aspecto cognitivo também é influenciado pelo mau humor, geralmente os mau- humorados crônicos alimentam pensamentos automáticos(PA) espontâneos, ligados a coisas negativas, e maximizam tudo de ruim (erros cognitivos). As pessoas mau-humoradas e portadoras de distimia e depressão cometem diversos erros, no que diz respeito ao aspecto cognitivo, denominados Erros Cognitivos. Individuos mau-humorados e/ou distimicos podem maximizar o fator negativo e minimizar o fator positivo; levam sempre as questões para o lado pessoal e acham que estão sendo injustiçadas ou que o acontecimento ou desagradável só acontece com elas (personalização).

Segundo Dowrick (2011), ao contrário do que muitos pensam, não é o humor que influencia nossos pensamentos e sim, os nossos pensamentos que determinam o humor. Por tanto, se desenvolvemos estratégias cognitivas a fim de modificar os pensamentos, conseguiremos transformar o humor.

ASPECTOS NEGATIVOS DO MAU HUMOR

De acordo com o clínico médico, Antonio Carlos Lopes da Universidade Federal de São Paulo, o mau humor gera angústia- o que libera no corpo hormônios como a adrenalina. Isso causa palpitação, arritmia cardíaca, mãos frias, dor de cabeça, dificuldades na digestão e irritabilidade.

Quando a distimia ocorre na infância ou na adolescência, a criança/ adolescente é caracterizada com brigona, rebelde, mau-humorada, irritada e muitas vezes são rejeitadas pelos amigos. Nessa fase, a mais bem-humorado o indivíduo está, maior é o seu bem-estar. Vários estudos comprovam que o bom humor e a alegria aumentam a capacidade de resistir à dor, graças a endorfina. É exatamente esse princípio que fundamenta os Doutores da Alegria, que visitam crianças em hospitais levando alegria e mudando o humor dos doentes. As invasões de quartos e UTIs feita pelos atores vestidos de “palhaços-médicos” não apenas aceleram a recuperação das crianças, mas motivam os médicos e pais, além de mudar completamente o humor de todos no ambiente.

Estudos recentes salientam que o cérebro aumenta a liberação de dopamina (substância relacionada ao bem-estar) quando estamos de bom humor e quando fazemos atividades como praticar esportes, sair com amigos, namorar, ir a um restaurante ou cinema, assistir a um bom programa de tv, ir a um show de rock ou até mesmo degustar um simples sorvete. Essa substância também é liberada durante a prática de atividades intencionais.

Segundo Lyubormisky (2008), o humor é de 50% geneticamente determinado, 40% determinado pela maneira como pensamos e pelo que fazemos e, ao contrário do que a grande maioria pensa, apenas 10% por situações da vida- ou seja, acontecimentos felizes ou infelizes. Esses dados são bastante significativos porque conferem à pessoa a capacidade de mudar o humor. Dessa maneira, podemos nos tornar pessoas bem-humoradas, porque o humor muda quando nos colocamos em movimento, praticando determinadas atividades e modificando a maneira de pensar (interpretar as situações).

Para melhorar o humor e ser mais feliz, não precisamos mudar nossa constituição genética, nem nossas circunstâncias de vida (por exemplo, procurar outro emprego, nos tornarmos mais atraentes, casar, ganhar mais dinheiro, mudar de residência etc.), basta investir em atividade intencionais. Lyubormisky (2008) mapeou em sua pesquisa 12 atividades intencionais, capazes de melhorar o humor(tanto de portadores de transtorno do humor, quanto dos não portadores). São elas expressas gratidão, cultivar o otimismo, evitar cismas e comparações sociais, praticar gestos de cortesia, cultivar relacionamentos, desenvolver estratégias de superação, aprender a perdoar, experimentar estados de fluxo, desfrutar as alegrias da vida, comprometer-se com metas, praticar a religião e a espiritualidade e cuidar do corpo.

O professor da UFRJ Carlos Américo Pereira, que pesquisa a qualidade de vida e bem- estar subjetivo há 20 anos, em um de seus trabalhos, nos dá dicas de atividades para mantermos o bom humor e sermos felizes. Ele ressalta que, na experiência dessas atividades, a quantidade de ocorrência freqüência -é melhor que a intensidade. E mais: a maioria dessas atividades deve ser desfrutada pela convivência com outras pessoa como cônjuges, companheiros, filhos, amigos etc.

TERAPIA E HUMOR

É possível lançar mão das atividades intencionais do trabalho terapêutico com pessoas portadoras do transtorno do humor. Dessa maneira, o trabalho se inicia com o mapeamento das atividades intencionais adequadas para o cliente. A seguir prescrevem-se algumas dessas atividades, como forma de melhorar o humor do cliente.

Quando uma pessoa está com o domínio de emoções negativas, sua cognição fica embotada, tornando-se mais resistente às estratégias cognitivas. Portanto, é necessário com um trabalho para aumentar a freqüência e a intensidade das emoções positivas, a fim de ampliar a cognição, o que facilita o trabalho com técnicas de Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), com Reestruturação Cognitiva.

Pessoas deprimidas tendem a pensar de acordo com o estilo atributivo pessimista. Portanto, diante de um evento negativo, o interpretam de maneira permanente, abrangente e pessoal, estagnando diante de uma dificuldade. Percebem, ainda, em evento positivo de forma temporária, específica e externa a ele. Técnicas provenientes da TCC, como modelo de quatro contestações (que consistem em: procuram provas que sustentam a convicção; busca por alternativa às adversidades; a decatastrofização – caso a convicção esteja correta; e, por fim, procura pela utilidade da convicção), são importantes para questionar o estilo atributivo do pessimista e impulsioná-lo a agir.

Conclui-se que o humor é em parte geneticamente determinado, porém existem algumas atividades que podem influenciar possivelmente o humor, melhorando, ampliando e flexibilizando a cognição. Essas atividades podem ser empregadas no trabalho terapêutico com transtorno de humor e por pessoas que desejam melhorar o humor de maneira global. A monitoração e mudança cognitiva (como o trabalho com os erros cognitivos e com o estilo atributivo) também podem ajudar a melhorar o humor de forma significativa.