A autônoma Denise Alves de Souza tinha 27 anos e um menino de 5 quando conheceu uma pessoa interessante no trabalho. Não demorou muito para o cliente da papelaria onde atuava convidá-la para o cinema. Pedido aceito, faltava encontrar uma pessoa para cuidar do filho. Quando avisou ao crush, ele desapareceu. Justificou que não fica com mulher que tem filho. Está claro que todos temos direito de escolha, mas não existe melhor maneira de comunicar isso? Mulheres contam à Universa como reagiram e especialista explica como encarar melhor essa rejeição que é bem comum.
Qual o problema de ficar com mãe solo?
“Conversávamos muito, mas antes do convite não tinha falado do meu filho [Edgar Paulo, hoje com 15 anos]. Quando isso aconteceu, a cara dele não foi das melhores. Saiu sem falar nada, até que um belo dia retornou na papelaria e perguntei sobre o cinema. Ele me olhou e disse: ‘não fico com quem tem filhos’. Dei um sorrisinho e parei de falar. Foi sincero, mas não precisava falar assim, né?”, questiona Denise.
Ela acredita que esse tipo de comportamento é preconceito: “Qual o problema de namorar ou ficar com uma mãe solo?”, pergunta, e dá algumas opções de resposta: “Tem homem que não quer essa responsabilidade ou até dividir a mulher com o filho. Ou não gosta de criança. São vários fatores”.
Até encontrar o atual marido, com quem hoje tem um filho, Denise conta que perdeu um namoro também por causa da maternidade. A mãe do ex, com quem ficou por dois meses, não a aceitava por causa do filho.
“Depois disso, resolvi viver sozinha por longos anos, até que conheci meu marido, há dois. E foi tranquilo, até porque ele tem uma filha do primeiro casamento. Hoje, temos o Lorenzo, de 1 ano.
“Liberdade de escolha não te dá o direito de ser desumano”
“Homens e mulheres evitam mesmo se relacionar com quem tem filhos, principalmente quando eles ainda são dependentes, afirma a especialista em psicologia social e cognitiva pela UFRJ”, Mônica Portella. Um dos principais motivos, segundo ela, é evitar encrenca com o antigo relacionamento da pessoa interessada, ou seja, a mãe ou o pai da criança. Mas ela frisa que se trata de uma liberdade de escolha.
“Evitar o relacionamento com alguém que tenha filhos é uma postura impopular, mas a pessoa está sendo coerente com seus valores. Por outro lado, não existe nenhuma desculpa para ser desrespeitoso. Se está começando o papo com o crush e falou-se que tem filho, saia pela tangente ou fale a verdade sem ser grosseiro”, aconselha Mônica.
É preciso ainda, observa a especialista, que a mulher fique atenta aos seus valores para escolher melhor o tipo de relacionamento que quer manter. Ou seja: ficar mais seletiva, já que a pessoa estará próxima ao seu filho.
“Ou ele ou eu”
A recepcionista Rogéria, de 22 anos, pediu que seu sobrenome fosse omitido para preservar o filho, mas afirma que seguiu essa cartilha. Ela é mãe de um menino de 3 anos e já viu um pretendente sumir quando contousobre a maternidade. Depois de um tempo, ouviu de outro rapaz que precisaria escolher entre ele e o filho:
“Eu conhecia essa pessoa desde os 15 anos, e a gente começou a sair. Aí ele falou que eu deveria deixar meu filho morando com o pai se quisesse ter mais liberdade. Caso contrário, não namoraríamos mais”.
Ela diz que ficou brava com a atitude da pessoa e, nesse caso, a considera egoísmo. Mas pondera:
“Entendo que a pessoa esteja no direito dela. Talvez eu até tomasse essa atitude para não ter um vínculo com a criança. E tem ex que perturba mesmo, seja pai ou mãe. Ficou para mim a lição de filtrar melhor as escolhas. Hoje namoro alguém que me ajuda na educação do meu filho e reforça alguns valores importantes como tratar bem a todas as mulheres”, ela diz.
Fonte: https://universa.uol.com.br/noticias/redacao/2019/01/24/nao-fico-com-quem-tem-filhos-preconceito-ou-direito-de-escolha.htm