Por: Esp. Leonardo Vasconcelos
Em 2016 a Universidade de Oxford escolheu o termo “pós-verdade” como palavra do ano. A ideia central do conceito diz respeito às circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos importância do que crenças pessoais. O que o historiador Leandro Karnal chama de seleção afetiva de identidade, quando se escolhe acreditar somente naquilo que diz respeito ao seu universo pessoal.
A revista Science publicou um estudo mostrando que as “fakenews” se propagaram 70% mais rápido que as notícias verdadeiras e alcançaram muito mais gente. Um levantamento da Ipso Moris com aproximadamente 20mil pessoas de 27 países, colocou os brasileiros no topo do ranking no quesito crença em notícias falsas.
Esse contexto revela a necessidade cada vez maior de cultivarmos a força de caráter do pensamento crítico. Que dentro da Psicologia Positiva é caracterizada pela análise crítica e justa das evidências disponíveis, inclusive aquelas que vão contra nossos objetivos, planos e crenças favoritas.
Ensinar ferramentas para aprimorar o pensamento crítico é uma das metas do psicólogo Richard Nisbettem seu curso e livro homônimo “Mindware”. Nisbett aborda temas como lógica, probabilidade, estatística, economia clássica, tomada de decisão e a psicologia dos vieses cognitivos.
Vieses cognitivos são padrões de distorção de julgamento que todos nós cometemos em maior ou menor grau. As pesquisas sobre as influências desses vieses nas decisões econômicas renderam a Daniel Kahneman o prêmio Nobel de Economia em 2002. O escritor Rolf Dobelli compilou vários desses erros sistemáticos de raciocínio no livro “A Arte de Pensar Claramente”, vamos conferir 3 deles:
Viés da Confirmação:
Considerado um dos nossos maiores vieses, ele representa a tendência a interpretar novas informações como favoráveis às nossas convicções. Celebramos os estudos que “confirmam” nossas ideias e varremos para debaixo do tapete as evidências que as desconfirmam, uma atitude nada favorável ao pensamento crítico. Para amenizar essa tendência, uma sugestão é interpretar o Advogado do Diabo para si mesmo e perguntar “O que tornaria minha crença falsa?” e “Quais são as evidências contrárias!?”. Um exercício difícil, porém, necessário.
Viés da Sobrevivência
O viés da sobrevivência trabalha com a suposição que damos mais atenção aos casos de sucesso de uma determinada empreitada, e por isso superestimamos nossas chances. O mercado está cheio de fórmulas para alcançar a fama, a riqueza, o corpo desejado e a saúde impecável, no entanto ignoram-se os casos dos milhares de indivíduos que seguiram os mesmos princípios e fracassaram. Procurar o “cemitério dos fracassados”, ou seja, os casos de insucesso de uma abordagem, seja ela uma terapia ou um empreendimento, dará uma noção mais realista das suas verdadeiras chances.
O Efeito Lago Wobegon
Lago Wobegon é uma cidade fictícia imaginada pelo escritor GarrisonKeillor onde “todas as mulheres são fortes, todos os homens são bonitos e todas as crianças estão acima da média”. A característica desse viés é superestimar suas habilidades positivas. A maioria das pessoas se consideram mais bonitas, inteligentes, éticas e melhores amantes que a média, o que é uma impossibilidade matemática. Para compensar esse efeito, uma dose maior de humildade e informações mais objetivas sobre seu desempenho e suas habilidades podem ajudar.