RIO – O mau humor crônico atinge pelo menos 3% da população mundial, segundo pesquisas, e pode ser sintoma de um transtorno psicológico chamado distimia. O tema foi o escolhido pelos leitores no site do GLOBO para a coluna desta semana. A psicóloga Monica Portella, diretora do Centro de Psicologia Aplicada e Formação do Rio de Janeiro (CPAF-RJ) e autora do livro “A ciência do bem-viver – propostas e técnicas da psicologia positiva” (CPAF- RJ), explica que as pessoas mal humoradas e depressivas cometem diversos erros no que diz respeito ao aspecto cognitivo, como, por exemplo, maximizam o fator negativo e minimizam o positivo; levam sempre as questões para o lado pessoal e acham que estão sendo injustiçadas ou que o acontecimento ruim ou desagradável só acontece com elas. A técnica de psicoterapia cognitiva e comportamental, diz Monica, pode ajudar a controlar o problema e, em alguns casos, é necessário tomar medicamentos, receitados por especialista.
MONICA PORTELLA: Esta é uma característica dos transtornos de humor, que incluem depressão, distimia e transtorno bipolar. A distimia é um estado de depressão leve crônico e se manifesta já na adolescência. Por ter sintomas mais leves do que a depressão, às vezes leva mais tempo para as pessoas procurarem tratamento. Quem tem distimia sente-se desmotivado, mal humorado mostra sentimentos negativos e impaciência. Porém, uma pessoa sem esses transtornos de humor pode ser mal humorada, já que o nosso humor pode ser, em parte, geneticamente determinado. Os determinantes do humor são três: circunstâncias da vida, isto é, acontecimentos felizes ou não (10%), genética (50%) e 40% atividades intencionais, como menciona a pesquisadora Sonja Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia. Entre essas atividades estão ser otimista, focar metas pessoais, cultivar a relação com outras pessoas, práticas espirituais e ações relacionadas com o corpo. Geralmente os mal humorados crônicos alimentam pensamentos automáticos, espontâneos, ligados a coisas negativas. As pessoas mal humoradas maximizam tudo de ruim.
MONICA: Irritabilidade, tristeza, impaciência, comportamento agressivo, e, algumas pessoas, podem sentir reação fisiológica como aperto no peito relacionado à angústia. Estes sintomas podem ser observados na infância e isto não quer dizer que a pessoa vai sofrer do problema, pois existem outros fatores determinantes. O ambiente também pode influenciar de forma negativa. Filhos de pais mal humorados podem sofrer de mau humor.
MONICA: Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 3% da população mundial, cerca de 180 milhões de pessoas, sofrem de distimia, sendo o mau humor mais comum em mulheres, por causa das oscilações hormonais. No diagnóstico é importante entender que o mau humor não é uma doença e sim uma característica de um transtorno.
MONICA: É possível conseguir bons resultados com a terapia cognitiva e comportamental, que vai modificar a maneira de a pessoa sentir, pensar e agir. O objetivo é trabalhar os padrões de pensamentos, os tais erros cognitivos, comportamentos, sentimentos e reações fisiológicas. Em relação aos nutrientes, há estudos mostrando que determinados alimentos mexem com o humor e podem melhorar o bem-estar, ao aumentar a produção do neurotransmissor serotonina. Já a prática de exercícios físicos é importante, pois há comprovação da liberação da endorfina e serotonina, importantes para o humor, além de melhorar a autoestima. A medicação é receitada quando o problema se torna prejudicial à rotina do indivíduo. Normalmente são indicados antidepressivos que devem ser receitados com acompanhamento psiquiátrico. O mau humor crônico tem cura com terapia e, se necessário, o especialista indicará tomar fármacos.